quinta-feira, 15 de abril de 2010
sexta-feira, 12 de março de 2010
série as magoadas do cinema - parte I
"quando uma mulher atinge o coração de outra, ela raramente erra e o ferimento é invariavelmente fatal."
"como a maioria dos intelectuais ele é intensamente estúpido."
"quando eu apareci na sociedade eu tinha 15 anos. eu já sabia o papel ao qual eu era condenada, estar quieta e fazer o que me diziam, e isso me deu a oportunidade perfeita de ouvir e observar. não o que me diziam, o que naturalmente não me interessava, mas o que as pessoas tentavam esconder. eu pratiquei o desapego. eu aprendi a parecer feliz enquanto embaixo da mesa eu me espetava com garfo. eu me tornei um virtuose do engano. eu não buscava prazer, e sim conhecimento. eu consultei os moralistas mais rígidos para saber como me portar, filósofos para descobrir o que pensar, e escritores para saber do que eu poderia me safar. e no fim de tudo eu destilei tudo em um único príncipio maravilhosamente simples: vencer ou morrer."
"crueldade - eu semprei achei que soasse mais nobre."
quarta-feira, 3 de março de 2010
porque será que me dói o estômago? o sumo sacerdote disse que era preciso expelir as mágoas de alguma forma, mas ainda externando todas elas aqui na minha muralha das lamentações fui parar no hospital naquela madrugada com uma dor infernal que quase chorei (para aqueles que não me conhecem, não sou dado às lágrimas, ainda descubro o porque). dizem que dor no estômago são sapos engolidos. cuspo todos diariamente, mas parece que na mesma hora eles voltam e começam a procriar dentro de mim, infinitamente...
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
você, por sua escolha, se tornou meu boneco vodu particular. minha caixa de alfinetes está e sempre estará cheia e a sua espera. alguns deles, é claro, mais afiados que os outros, mas nem por isso mais ou menos penetrantes. meu grande mal (ou não) é saber exatamente onde espetar esses alfinetes e já saber o tipo de dor ou resultado que ele pode causar. já chamaram isso mágoa, outros preferem classificar como acidez, eu prefiro nem qualificar em nomenclaturas tão rasteiras e vejo mais como uma percepção aguçada daquilo que você, mais ninguém, fez questão de despertar em mim naquele dia em que resolveu usar o seu poder de fogo contra mim. já ouviu falar na expressão mexer num vespeiro, cutucar onça com vara curta, procurar sarna pra se coçar? pois é, mais ou menos uma combinação de todas essas pérolas da sabedoria popular, tão execradas pelos acadêmicos, mas que na hora em que nós, dotados de inteligência relativamente superior, lançamos mão delas e as usamos com tal maestria que faria nietszche, schopenhauer e todo o panteão morrer de inveja por não terem visto a coisa por esse ângulo. naquela noite quando provei do seu veneno, juro que adoraria mil vezes ter bebido uma garrafa do mais letal deles para que não fosse testemunha de tamanha perversidade. e é com esse mesmo gozo que eu testumenhei, que eu cravo cada vez mais fundo esses alfinetes, agulhas, cravos, o que seja; vês agora o quanto meu arsenal é variado? mas ainda bem que aprendo tão rápido que na maioria das vezes chego a superar aqueles que tentam me ensinar algo, e esses que tentaram me derrubar chegam a se arrepender e até se desculparem por terem me causado tanto mal. irônico demais, não acha? o ser humano depois de ferido se desculpar por isso, deveria ser o oposto, mas não, não é. nunca subestime o poder da psicologia reversa, a sublime arte daqueles que não desenvolveram suas garras e presas afiadas o suficiente para que lutassem de maneira mais primitiva e talvez, mais legítima, mas milhões de vezes menos divertida que o arrombamento psicológico, esse deixa marcas indeléveis ao passo que hematomas depois umas semaninhas já se foram e nos tornamos prontos pra outra, e digo isso com a experiência de quem passou pelos dois mundos e escolheu a mente como arma e as palavras como munição. no começo era um esforço hercúleo arquitetar e montar esse arsenal, hoje me vem com a naturalidade de quem bebe um copo d’água sem nem mesmo sentir sede. posso te garantir que hoje isso me dói bem menos que existir e chega a ser até uma razão para que eu mesmo não provoque o meu hiato, o que seria de profundo mau gosto. noite passada acordei embebido em meu suor amargo e tal qual um algoz faminto diante de sua vítima indefesa, alcancei você sentadinho na minha mesa de cabeceira, ao lado da caixa de alfinetes e dos livros que de certa maneira me fizeram assim. olhei bem fixamente nos olhos do meu bonequinho de espuma e eles pareciam pedir clemência por tantos anos já furando e, vezenquando, depois de furar com o alfinete, girá-lo para que, além de um simples pinhole, pudesse esgarçar uma cratera e quem sabe fazer sangrar lentamente até a cor da pele se esvair. cego por essa cólera, mirei no coração, mas ao chegar perto sem penetrar o plexo do pobre boneco de olhos tristes e medrosos, num átimo, me dei conta de que se fincasse o alfinete lá toda a diversão ia se acabar. e me contive como o pedreiro que segura o gozo para castigar ainda mais o rabo do viado que vivia rodeando a obra no intuito de ser fodido. isso mesmo, fodido com "o", do verbo foder, de partir ao meio. e daí que resolvi entao dar só uma fincadinha na nuca para que você desse um pulo sobressaltado do seu travesseiro que sente falta da minha mente brilhante dormindo sobre ele todas as noites e deixando lá, no meu sudário particular, os sonhos mais alucinados e atemorizantes que fariam o mais pérfido dos seres passar meses sem dormir. cheguei a ouvir do meu leito o seu grito da dor lancinante que varou a sua nuca. se houvesse um jeito o golpe viria com uma assinatura igual aquelas de quem manda flores- "para sempre sua, v.- ou ainda: " com amor, v.", mas ainda que sem assinatura sei que você se dá conta de que eu, aquela de quem você corre léguas tiranas o enviou esse presentinho. e esse é o preço que você, eu estamos pagando. você pelo que disse e eu pelo o que eu ouvi, contra minha vontade.