quinta-feira, 15 de abril de 2010

(...) através das nuanças dos delírios sem nexo, revelamos uma radiografia das nossas partes internas, implacável, em que cada mancha, mesmo após mil lavagens, pode ser detectada, gritante no lençol que encobre as nossas verdades. (...) o sangue em meu vestido não é vinho. não posso, não consigo transformar porra em mingau de aveia; a lama em meus sapatos é pura merda. (...) bosta de carência básica infantil, que nos torna para sempre patéticos, jamais capazes de vencer essa necessidade, sozinhos, de alcançar o amor. o amor, o amor, o amor. vá pra puta que pariu o amor. todo esse imperativo de amar é puro masoquismo. de ser amado, mero sadismo. (...)

f. young - tudo que você não soube

sexta-feira, 12 de março de 2010

série as magoadas do cinema - parte I


a mágoa está para o cinema assim como a fome está para a comida, ou seja, não se separam. começarei hoje a mostrar célebres magoadas que fizeram sucesso no cinema. quando digo sucesso não digo bilheterias milionárias, mas sim na visão daqueles que admiram uma vilã vingativa e paraguaia na sua mágoa. e para inaugurar esse cantinho tão especial escolhi a marquesa de merteuil do filme ligações perigosas, vivida irretocavelmente pela fabulosa glenn close que, ao fazer uma retrospectiva, percebi que tem uma tradição de personagens bem orientadas pela mágoa, por exemplo: alex forrest em atração fatal, claire wellington em the stepford wives, camille dixon em cookie´s fortune e por aí vai. para ilustrar essa homenagem a la close selecionei alguns trechos de suas falas no filme. ei-la:

"quando uma mulher atinge o coração de outra, ela raramente erra e o ferimento é invariavelmente fatal."

"como a maioria dos intelectuais ele é intensamente estúpido."

"quando eu apareci na sociedade eu tinha 15 anos. eu já sabia o papel ao qual eu era condenada, estar quieta e fazer o que me diziam, e isso me deu a oportunidade perfeita de ouvir e observar. não o que me diziam, o que naturalmente não me interessava, mas o que as pessoas tentavam esconder. eu pratiquei o desapego. eu aprendi a parecer feliz enquanto embaixo da mesa eu me espetava com garfo. eu me tornei um virtuose do engano. eu não buscava prazer, e sim conhecimento. eu consultei os moralistas mais rígidos para saber como me portar, filósofos para descobrir o que pensar, e escritores para saber do que eu poderia me safar. e no fim de tudo eu destilei tudo em um único príncipio maravilhosamente simples: vencer ou morrer."

"crueldade - eu semprei achei que soasse mais nobre."

quarta-feira, 3 de março de 2010


porque será que me dói o estômago? o sumo sacerdote disse que era preciso expelir as mágoas de alguma forma, mas ainda externando todas elas aqui na minha muralha das lamentações fui parar no hospital naquela madrugada com uma dor infernal que quase chorei (para aqueles que não me conhecem, não sou dado às lágrimas, ainda descubro o porque). dizem que dor no estômago são sapos engolidos. cuspo todos diariamente, mas parece que na mesma hora eles voltam e começam a procriar dentro de mim, infinitamente...



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010



você, por sua escolha, se tornou meu boneco vodu particular. minha caixa de alfinetes está e sempre estará cheia e a sua espera. alguns deles, é claro, mais afiados que os outros, mas nem por isso mais ou menos penetrantes. meu grande mal (ou não) é saber exatamente onde espetar esses alfinetes e já saber o tipo de dor ou resultado que ele pode causar. já chamaram isso mágoa, outros preferem classificar como acidez, eu prefiro nem qualificar em nomenclaturas tão rasteiras e vejo mais como uma percepção aguçada daquilo que você, mais ninguém, fez questão de despertar em mim naquele dia em que resolveu usar o seu poder de fogo contra mim. já ouviu falar na expressão mexer num vespeiro, cutucar onça com vara curta, procurar sarna pra se coçar? pois é, mais ou menos uma combinação de todas essas pérolas da sabedoria popular, tão execradas pelos acadêmicos, mas que na hora em que nós, dotados de inteligência relativamente superior, lançamos mão delas e as usamos com tal maestria que faria nietszche, schopenhauer e todo o panteão morrer de inveja por não terem visto a coisa por esse ângulo. naquela noite quando provei do seu veneno, juro que adoraria mil vezes ter bebido uma garrafa do mais letal deles para que não fosse testemunha de tamanha perversidade. e é com esse mesmo gozo que eu testumenhei, que eu cravo cada vez mais fundo esses alfinetes, agulhas, cravos, o que seja; vês agora o quanto meu arsenal é variado? mas ainda bem que aprendo tão rápido que na maioria das vezes chego a superar aqueles que tentam me ensinar algo, e esses que tentaram me derrubar chegam a se arrepender e até se desculparem por terem me causado tanto mal. irônico demais, não acha? o ser humano depois de ferido se desculpar por isso, deveria ser o oposto, mas não, não é. nunca subestime o poder da psicologia reversa, a sublime arte daqueles que não desenvolveram suas garras e presas afiadas o suficiente para que lutassem de maneira mais primitiva e talvez, mais legítima, mas milhões de vezes menos divertida que o arrombamento psicológico, esse deixa marcas indeléveis ao passo que hematomas depois umas semaninhas já se foram e nos tornamos prontos pra outra, e digo isso com a experiência de quem passou pelos dois mundos e escolheu a mente como arma e as palavras como munição. no começo era um esforço hercúleo arquitetar e montar esse arsenal, hoje me vem com a naturalidade de quem bebe um copo d’água sem nem mesmo sentir sede. posso te garantir que hoje isso me dói bem menos que existir e chega a ser até uma razão para que eu mesmo não provoque o meu hiato, o que seria de profundo mau gosto. noite passada acordei embebido em meu suor amargo e tal qual um algoz faminto diante de sua vítima indefesa, alcancei você sentadinho na minha mesa de cabeceira, ao lado da caixa de alfinetes e dos livros que de certa maneira me fizeram assim. olhei bem fixamente nos olhos do meu bonequinho de espuma e eles pareciam pedir clemência por tantos anos já furando e, vezenquando, depois de furar com o alfinete, girá-lo para que, além de um simples pinhole, pudesse esgarçar uma cratera e quem sabe fazer sangrar lentamente até a cor da pele se esvair. cego por essa cólera, mirei no coração, mas ao chegar perto sem penetrar o plexo do pobre boneco de olhos tristes e medrosos, num átimo, me dei conta de que se fincasse o alfinete lá toda a diversão ia se acabar. e me contive como o pedreiro que segura o gozo para castigar ainda mais o rabo do viado que vivia rodeando a obra no intuito de ser fodido. isso mesmo, fodido com  "o", do verbo foder, de partir ao meio. e daí que resolvi entao dar só uma fincadinha na nuca para que você desse um pulo sobressaltado do seu travesseiro que sente falta da minha mente brilhante dormindo sobre ele todas as noites e deixando lá, no meu sudário particular, os sonhos mais alucinados e atemorizantes que fariam o mais pérfido dos seres passar meses sem dormir. cheguei a ouvir do meu leito o seu grito da dor lancinante que varou a sua nuca. se houvesse um jeito o golpe viria com uma assinatura igual aquelas de quem manda flores- "para sempre sua, v.- ou ainda: " com amor, v.", mas ainda que sem assinatura sei que você se dá conta de que eu, aquela de quem você corre léguas tiranas o enviou esse presentinho. e esse é o preço que você, eu estamos pagando. você pelo que disse e eu pelo o que eu ouvi, contra minha vontade. 











quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

apresentando - a suburbana aprendiz de madame

ao longo dessa minha trajetória aqui nesse depósito de mágoas (repito, reais ou imaginárias) vou apresentando personagens que passaram pelo meu caminho e que faço questão de descrevê-los com riqueza de detalhes para que vocês, leitores, não precisem nem se esforçar para imaginar, uma vez que tentarei fazer a imagem ficar bem clara, digital e em som dolby stereo. então assente-se confortavelmente e aproveite o show. a personagem de hoje é a suburbana aprendiz de madame (os nomes serão omitidos para que ninguém fique famoso as minhas custas hahahaha, senso de humor sempre funciona, não é mesmo?!) só para que vocês entendam um pouco melhor, a história a ser relatada em breve se passa na barra da tijuca, rio de janeiro - paraíso dos novos ricos, therefore, cafonas... sem me estender mais, here it goes: 

.. quando ouvi o nome dessa mulher pela primeira vez, nao sei porque sabia que não ia conectar com ela em nível nenhum, hoje entendo o que minha bruxa disse: você deve sempre seguir sua intuição!! e dito e feito... antes que nos encontrassemos ela tentou me fazer o bem, mas o bem, para mim, na época estava travestido de mal. sem que ela houvesse pousado seu olhar sobre mim, ja quis me rotular. admiro nas pessoas a capacidade que elas tem de se acharem tal donas de uma verdade ou tão acima do bem, do mal e de tudo que anda ou rasteja pela superficie terrestre. ate que um dia nos encontramos, relutei o máximo que pude, mas no fim, minha educação de aeromoça, a qual eu perfiro qualificar como boa educação dada por minha mãe, fez com que eu entrasse no território inimigo para satisfazer a vontade (até hoje não sei qual) de outrem. a construção inicial que haviam feito dela para mim era de uma mulher muito fina, elegante. no minuto em que nossos olhos nos encontraram o mito se desfez, afinal não devemos de deixar de ter admiração por nossos oponentes. apesar de ela estar vestindo osklen e outras dessas marcas nouveau riche, a imagem que eu tive foi de uma mulher na fila do verdurão brigando por dez centavos que faltavam no troco das alfaces murchas que ela comprara por estarem em oferta. e vi o quanto era triste pessoas que se projetam nas outras e não veem que seus idolos tem a profundeza e o tamanho de um dos vidrotil que cobrem o fundo de sua piscina, que se ainda estivessem cheia de ratos, mas não, nem isso. o cumprimento foi, digamos, diplomático e, devido a minha formação na socila, não ia passar disso, nem para o bem, muito menos para o mal. regra número um: não subestime o poder de fogo do seu oponente. regra número dois: mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda (com essa eu nem me preocupei porque ela não estava a altura nem para ser minha inimiga). não vi ali ameaça nenhuma, vi uma pessoa triste que se apega a uma atitude religiosa de falsa compaixão para poder comprar sua cobertura de marmore branco e vidros verdes (tão classe média emergente essa estética, mon dieu!!!) no céu. é, baby essas pessoas acreditam no céu!!! os presentes a adoravam e a achavam o máximo por ter conseguido tudo aquilo e ainda, é claro, um filho, pois sem o filho não estaria completo. o narcisismo da maternidade e a garantia de uma pensão polpuda, caso... deus nem permita, bem, você sabe?! e aí me lembrei de algo que um dia meu dentista me disse em meio a anestesias e motores que furavam minha dentina na tentativa de limar uma cárie: algumas pessoas são tão pobres que a única coisa que elas tem é dinheiro, nada mais....

cápsulas de mágoa

indicações:
as cápsulas de mágoa são indicadas para uso contínuo ou esporádico dependendo do grau de necessidade do paciente, podem ser usadas em caso de mágoas reais ou imaginárias, afinal planejamento é a chave do sucesso e, no caso de uma mágoa, se essa for mal planejada podem acarretar reações adversas, portanto esteja preparado para elas. 

apresentação:
as cápsulas (as daqui em especial) podem ser apresentadas em diversas formas. muitas vezes, uma única frase pode ser de efeito mais letal que um livro de 500 páginas. 

efeitos colaterais:
os efeitos colaterais são mais direcionados àqueles a quem as cápsulas de mágoas se destinam, uns podem se virar contra você ou, dependendo do grau de masoquismo do alvo, esse pode cair de amores por quem as desferiu. nesse caso é recomendada a reprogramação do amor negativo, que pode ser realizada em qualquer filial do SPC (serviço de proteção ao carma). 

superdosagem: 
não foi registrado nenhum caso de superdosagem, isso é irrelevante para nossa equipe de  estudiosos, sim, porque - para eles- às vezes, uma única vez já é o bastante.